E m entrevista, o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Júnior, comenta os principais avanços recentes do estado no agronegócio. Entre os temas, está o fim da vacinação contra febre aftosa; as expectativas diante do programa Paraná Trifásico; o que o agricultor pode esperar do programa Descomplica Rural, lançado recentemente; como o Paraná vem trabalhando para agregar valor à produção agrícola; o espaço que a Agricultura Familiar ocupa no cenário agro do estado; a importância do Show Rural, que tem início nesta segunda-feira (03); a duplicação da BR-277; e, até mesmo a polêmica sobre a eventual entrega da Ferroeste para a concessionária Rumo Logística. Gazeta do Paraná - O Paraná deixou de vacinar o rebanho contra a aftosa. O que isso representa para o Estado? Ratinho Júnior - É um marco para o agronegócio paranaense.
Um momento histórico. Uma sinalização ao mundo de que aqui produzimos com qualidade. Agora, cabe a todos os envolvidos na cadeia agropecuária assegurar a sanidade dos rebanhos para que no próximoano haja o reconhecimento internacional de área livre da aftosa. Da parte do Estado, vamos manter um recadastramento a cada 6 meses do nosso rebanho bovino, para alimentar a inteligência do sistema de vigilância, tão necessário agora sem a vacina. A vigilância sanitária será redobrada. Vamos atingir um novo patamar sanitário no agronegócio mundial e isso permite aos produtores conquistar novos mercados nas cadeias de todas as carnes. Abre um leque de oportunidades porque cerca de 65% dos países não compram carne suína do Paraná em função da vacinação contra aftosa. Vamos resgatar a produção de bezerros, melhorar a genética animal e ampliar as granjas
. O agronegócio é a vocação paranaense e a conquista deste novo status é resultado de um trabalho integrado e de mudança cultural com os produtores. O Paraná reforçará sua excelência na produção animal. No ano passado o Estado deu o ponta pé inicial num grande programa de eletrificação rural. Quais os objetivos? Vamos realizar o maior programa de modernização energética na área rural do Estado. Uma revolução no campo, como não se via desde os anos de 1980 quando a eletricidade chegou ao meio rural. O programa Paraná Trifásico será implantado pela Copel e envolve investimentos de R$ 2,1 bilhões para a atualização de 25 mil quilômetros de redes. A modernização acompanha o desenvolvimento do agronegócio paranaense, que é cada dia mais produtivo, desde o pequeno agricultor até as grandes cooperativas. Um produtor que tenha uma granja de frango, por exemplo, muitas vezes não consegue ampliar a produção porque a rede monofásica não aguenta os equipamentos ou novas tecnologias. O novo sistema trifásico elimina essa dificuldade e vai transformar as cadeias produtivas do leite, da avicultura, piscicultura e suinocultura. O agricultor terá energia de qualidade e isso vai contribuir para que o agronegócio paranaense possa crescer com mais tranquilidade nos próximos 30 anos. Na semana passada, o governo lançou o programa Descomplica Rural. Em síntese como esta medida pode ajudar o agricultor? O Descomplica Rural foi criado para simplificar a vida de quem quer empreender no setor agroindustrial. É uma medida que agiliza e desburocratiza diversas situações dentro da máquina pública, entre elas o licenciamento ambiental. Ainda há muito investimento represado e com a agilidade das liberações eles acontecerão muito mais rapidamente. O programa é resultado do trabalho de muitos técnicos e ambientalistas e demonstra a importância do papel de indução da economia que o Estado precisa assumir para abrir novas oportunidades de emprego e renda. É um incentivo para quem quer instalar aviários, granjas ou tanques para peixes, por exemplo.
As mudanças não alteram a nossa responsabilidade sobre o meio ambiente e o Paraná seguirá preservando todo o conjunto da natureza. O agricultor tem a consciência da preservação das microbacias, das nascentes, da reserva legal e da mata ciliar. Mas quem quer abrir um tanque de peixe, respeitando tudo isso, não pode esperar seis meses ou um ano por uma licença. Isso tem que ser automático, ágil, online e desburocratizado, com segurança ambiental e jurídica. É isso que estamos propondoUma das suas propostas de governo trata da agregação de valor à produção agrícola. Isso já está acontecendo? O Paraná registrou o maior crescimento da produção industrial de alimentos do País até outubro do ano passado, segundo os últimos dados do IBGE. Uma evolução de 8,9% na comparação com o mesmo período de 2018. No País, este setor cresceu 1,6%. Este desempenho respalda as iniciativas do Governo do Estado de estimular o setor privado, em especial as cooperativas, a industrializarem os produtos agropecuários. Entre as ações de apoio estão programas de financiamento ao setor, especialmente com a atuação do BRDE e Fomento Paraná, concessão de benefícios fiscais, aplicação de política sanitária e capacitação técnica da produção.
O número alcançado pelo setor industrial de alimentos reflete uma cadeia organizada, com produtos padronizados para o mercado internacional e um movimento de aumento das exportações. Esse índice foi construído a muitas mãos, e temos potencial para elevá-lo nos próximos anos. Muitas medidas estão sendo tomadas em favor do agronegócio. Como a agricultura familiar se encaixa neste processo? Não estamos descuidando desta parcela de agricultores. Estamos fomentando novas formas de renda. Uma das medidas que adotamos é o apoio financeiro para pequenas cooperativas e associações com Programa Estadual de Apoio ao Cooperativismo da Agricultura Familiar, o Coopera Paraná
. O programa foi criado para incentivar a organização formal dos agricultores, com capacitação, orientação técnica e investimentos socioprodutivos. Estamos atendendo a uma grande demanda e dando apoio a projetos que possibilitem melhorar a competitividade e o acesso a mercados pelas pequenas organizações de produtores, garantindo maior renda e uso de boas práticas ambientais e sociais. Liberamos R$ 30 milhões e cada projeto selecionado pode receber até R$ 420 mil. Chegamos a mais uma edição do Show Rural. O que pode dizer sobre a feira e a condução da Coopavel? O Paraná é modelo para o mundo no cooperativismo. A Coopavel, que chega aos 50 anos de vida, tem uma parcela enorme de contribuição neste reconhecimento internacional e nos resultados que as cooperativas paranaenses conquistaram nas últimas décadas. O Show Rural é exemplo claro da visão estratégica dos gestores, que enxergaram a oportunidade de agregar tecnologia e inovações à produção agrícola para fortalecer o trabalho feito na ponta pelos cooperados, e isso se reflete em ganhos enormes de produtividade, melhora o desempenho da lavoura e a renda do agricultor, com reflexo direto nos negócios da cooperativa. A feira também reflete a capacidade de organização e a eficiência realizadora da Coopavel. Hoje, o dinamismo imposto ao negócio está evidente e é base do crescimento da empresa. A Coopavel reforça minha crença de que a tecnologia, a diversificação e a agregação de valor à produção do campo são fundamentais para o progresso do agronegócio e do nosso Estado. O fato é que aqueles 42 pioneiros que decidiram formar a Coopavel em 1970 certamente estão orgulhosos da condução da empresa, que também é um orgulho para o Paraná e para o Brasil. Há algum movimento para que a Rumo assuma operações da Ferroeste? A Ferroeste administra o trecho ferroviário entre Cascavel e Guarapuava e a concessão vence apenas em 2078. A Rumo é responsável pela operação entre os Campos Gerais e o Porto de Paranaguá. Ou seja, as duas empresas compartilham cargas que saem da região Oeste em direção a Paranaguá. Para que isso aconteça, há uma regulação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e um contrato de operação para garantir segurança jurídica às partes.
Um novo documento será assinado em 2020 e há uma negociação para que a operação da Rumo possa entrar no trecho da Ferroeste, inclusive com reforços de maquinário, para ajudar o escoamento da safra deste ano, beneficiando todo o setor produtivo. Esse é o fato. Pelo caráter público da Ferroeste, qualquer movimento da empresa tem que ser acompanhado de ampla publicidade e concorrência. Ou seja, não pode ser direcionado. Então não há possibilidade da Rumo assumir o controle da Ferroeste sem o devido processo legal. Nosso governo está trabalhando para oferecer novas alternativas de transporte ferroviário, com foco no aumento da capacidade de escoamento, reestruturação da malha e no potencial logístico do corredor de exportação Oeste-Leste. No ano passado, foi contratado o EVTEA-J (Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica, Ambiental e Jurídica) dos projetos da Nova Ferrovia (Paranaguá a Maracaju, no Mato Grosso do Sul) e do ramal ferroviário Cascavel a Foz do Iguaçu. Uma vez que confirme todos os requisitos, a empresa ganhadora terá doze meses para a elaboração do estudo, que contemplará 1.370 quilômetros.
A partir da sua entrega deste estudo serão discutidos modelos de concessão e parcerias público-privadas para a realização das obras. Em que estágio está o projeto de duplicação da BR-277, até o Distrito São João? Já autorizei a abertura de processo para a realização da obra. O que temos até o momento é um projeto de engenharia, elaborado pela EcoCataratas, entregue ao Estado como parte do acordo de leniência firmado com o Ministério Público Federal. É preciso verificar a necessidade de adequar o projeto, inclusive atualizando o orçamento, e verificar a questão das desapropriações. Essa atualização envolve entidades do setor produtivo de Cascavel que se dispõe a colaborar com o processo. Minha determinação é para que se encontre uma solução para este gargalo, respeitando as condicionantes legais.
De outra parte, já resolvemos um problema que afeta Cascavel e região, que é a remodelação do Trevo Cataratas. Trata-se de uma das obras mais complexas do País e que será realizada pela concessionária por indicação do nosso governo, também como parte do acordo de leniência. É uma obra emblemática. A população cobrava do Estado uma solução há mais de 30 anos e agora isso já está encaminhado.