“Vamos passar por isso. Mais ou menos uns 5 meses duros”, disse ao Estado ontem o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, considerando o surto de covid-19. O Brasil tinha até as 21h30 de ontem 69 casos confirmados do novo coronavírus – o balanço do Ministério da Saúde da tarde incluía 52 pacientes, mas outros infectados foram confirmados pelo Hospital Albert Einstein (16) e pela Secretaria da Saúde da Bahia (1). Segundo Mandetta, é difícil apontar o momento em que o limite de atendimento do Sistema Único de Saúde (SUS) será superado pelo avanço da doença, pois o País é “assimétrico”. “O Rio de Janeiro aguenta muito pouco. São Paulo aguenta um pouco mais. O Paraná é nosso melhor sistema, a melhor rede de distribuição. O Acre não tem nenhum caso. O Brasil é um continente”, disse. Já o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que ainda precisava falar com o ministro, mas minimizou os efeitos da nova epidemia. “Não sou médico, não sou infectologista. O que ouvi até o momento, outras gripes mataram mais do que essa.” À espera das “duras semanas”, Mandetta reuniu sua equipe no fim de semana. Pediu um mapeamento de hospitais, enfermarias e outras unidades de saúde em que podem ser instalados leitos para receber possíveis pacientes da nova doença. O governo avalia, inclusive, montar hospitais de campanha, apurou o Estado. O ministro também quer repetir a compra de equipamentos já feita pelo governo. A ideia é trazer mais álcool em gel, soros, luvas e cerca de 20 milhões de máscaras. Como os produtos têm validade longa, se a demanda não for tão alta, ele continua estocado para outras ocasiões. Como a demanda mundial cresceu, porém, o preço das máscaras importadas pelo governo subiu de R$ 0,11 para R$ 2, disse Mandetta. O governo federal também cobra que Estados revisem os seus planos de contingência. Mandetta reclamou, durante audiência na Câmara, que alguns secretários apenas “copiaram e colaram” planos usados no combate à pandemia de Influenza A (H1N1), registrada há mais de uma década. O ministro afirmou que é hora, por exemplo, de governos estaduais avaliarem mexer no calendário de cirurgias eletivas para que leitos fiquem livres. Em outra frente, Mandetta e sua equipe avaliam formas de melhorar a triagem. Há uma discussão com especialistas sobre criar orientações específicas para telemedicina e atendimento domiciliar, por exemplo. A ideia é entregar os estudos até o fim da próxima semana. Relatos. O novo total de casos é o dobro do oficial de terça-feira (34). Os 69 confirmados se dividem em 46 em São Paulo (incluindo os 16 confirmados pelo Einstein após o balanço do ministério), 13 no Rio, 3 na Bahia (incluindo um confirmado pela Secretaria da Saúde após fechamento do balanço federal), 2 no Rio Grande do Sul, 2 no Distrito Federal, 1 no Espírito Santo, 1 em Alagoas e 1 em Minas. Já o número de pacientes suspeitos também subiu de 876 para 907 – em todos os Estados e no Distrito Federal – e outros 935 casos foram descartados. Rio. O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), publicou em edição extra do Diário Oficial ontem um decreto com medidas para combater o coronavírus. A norma prevê isolamento e quarentena de pessoas suspeitas ou diagnosticadas com a doença, mas não diz em quais circunstâncias essas medidas serão adotadas. Isso deverá ser definido pela Secretaria de Saúde. Estão previstos, e ainda sem regulamentação, exames médicos, testes laboratoriais, cremação e manejo de cadáver.
Os planos estaduais de contingência contra o coronavírus, segundo o Estado mostrou este mês, envolvem a contratação de equipes médicas extras para atendimento domiciliar e até a suspensão de tratamentos e cirurgias agendadas para a liberar leitos, em caso de agravamento do surto. Governadores ainda pleiteiam repasses adicionais da União.