Numa comparação simples entre o período que vai de janeiro a junho deste ano com igual intervalo de 2020, o valor médio da taxa de câmbio no Brasil teve uma variação para cima de 13%, ou seja, ficou mais caro comprar dólar aqui. O que significa dizer que o real teve desvalorização em relação à moeda americana. Parece pouco, mas qualquer alta ou queda na taxa de câmbio, uma das principais variáveis da atividade econômica, tem impacto direto na atividade produtiva e na vida das pessoas.
Paraa indústria, esse é um componente que tem duas faces. Por um lado,o câmbio depreciado (desvalorizado) afeta diretamente as operaçõesnas indústrias. Isso ocorre porque muitos insumos utilizados nafabricação de produtos são importados e, portanto, cotados emdólar. Quando a moeda sobe, o custo de produção fica mais elevado.Para o empresário não perder competitividade no mercado, nem sempreesse aumento pode ser repassado integralmente aos clientes. Com lucromenor, a capacidade de fazer investimentos e de gerar empregos tambémfica comprometida.
Como dólar cotado atualmente em torno dos R$ 5, alguns setores sãomais afetados que outros. O automotivo, por exemplo, tem aumento noscustos de produção, já que 60% das peças e acessórios utilizadosnas linhas de montagem são importados. Quando não há nadapreviamente estabelecido em contrato, a conversão da moeda nastransações é feita seguindo a cotação do dia. Uma encomendafeita com antecedência, por um preço bom, pode passar a ser um maunegócio se houver alta repentina da taxa de câmbio no intervaloentre o período da compra dos produtos até o desembarque no Brasil.Se uma peça custa US$ 100, por exemplo, e demora alguns dias parachegar, numa súbita alta do dólar a conversão da moeda no valor dodia pode encarecer o produto e inviabilizar o negócio, gerandoprejuízo.
Oproblema, como se observa, não é tanto o valor da taxa em si, mas aoscilação para cima ou para baixo. E é muito difícil prever essavariabilidade da taxa. Muitos fatores podem influenciar a flutuação,como o comportamento do mercado financeiro, a taxa de juros (Selic)praticada no país e até aspectos políticos, entre outros.
Aquivale uma ressalva. Mesmo segmentos da indústria que não utilizamrecursos importados podem sofrer as consequências do câmbiodepreciado. O de carnes, por exemplo. Muitos insumos utilizados naalimentação dos animais são cotados em dólar. Com a moedanacional desvalorizada, o custo de produção aumentaconsideravelmente.
Alémdisso, uma moeda mais forte favorece a compra de produtos de outraseconomias (importações) e tanto empresas quanto a população têmacesso a uma gama maior de bens e serviços produzidos no exterior.Há, portanto, um aumento na concorrência entre mercadorias eserviços brasileiros com produtos importados, o que é bom para oconsumidor, mas não tão bom para o produtor porque limita aconcorrência da indústria nacional no mercado mundial. A taxa decâmbio valorizada abre brechas para que empresas brasileiras quefabricam produtos similares aos oferecidos no exterior sofram forteconcorrência e tenham sua capacidade de ajustar preços reduzida nocaso de uma variação significativa nos custos de produção. Ofomento da importação estimula a geração de empregos e riquezasfora, nos mercados onde o Brasil compra produtos.
Por outro lado, essa política de valorização do dólar frente ao real também pode favorecer a indústria nacional e o crescimento econômico. Embora iniba as importações, ela estimula as vendas externas e torna o produto brasileiro mais competitivo, aumentando a produção nas fábricas. Para dar conta da demanda, as indústrias tendem a contratar mais trabalhadores, gerando emprego e renda no país. Com mais recursos circulando na economia, a atividade de consumo cresce e toda a cadeia produtiva local se beneficia. Isso tem efeito tanto para a atividade extrativa e para a agroindústria quanto para setores da indústria de transformação, como os de carnes, madeira, automotivo, celulose e papel, entre outros.
Portudo isso, percebe-se que o valor da taxa de câmbio é fundamentalpara a economia. Num breve resgate histórico de avaliação docrescimento da economia mundial, não há registro de nenhum paísindustrializado que tenha abdicado de utilizá-la como mecanismo deincentivo à economia. A China, por exemplo, que é a economia quemais cresce no mundo, tem como premissa de seu planejamento econômicouma taxa de câmbio depreciada.
Oideal, portanto, é que tanto para estimular a economia quanto paranão encarecer demais os custos de produção, a taxa de câmbioopere numa faixa em que não prejudique a competitividade e, ao mesmotempo, alavanque negócios dentro e fora do país.
Evânio Felippe é economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).