As indústrias de móveis do Paraná nunca exportaram tanto como no primeiro semestre desse ano. Houve um salto nas vendas para o mercado externo de 105,52% em valores e de 104,51% em volume na comparação com igual período do ano passado.
As exportações foram principalmente para o Chile, Estados Unidos, Argentina, Uruguai e Peru. É o que mostra a balança comercial paranaense, divulgada pelo Ministério da Economia. O desafio agora é se sustentar nesse mercado.
O aumento significativo foi uma surpresa. O Paraná, assim como o Brasil, nunca foi destaque nas exportações de móveis. Não porque os produtos fabricados aqui não tenham qualidade ou não agradem o consumidor lá de fora. Os motivos são outros e terão que ser enfrentados e corrigidos para que esse salto nas exportações não seja apenas um "voo de galinha".
Impostos e encargos elevados e logística cara e pouco eficiente, componentes do conhecido ‘Custo Brasil’, são alguns dos obstáculos já conhecidos. Mas os ajustes necessários não são apenas da porta da fábrica para fora, com uma reforma tributária e investimentos em modais e estruturas de transportes mais eficientes e baratos. Passam também pela gestão do negócio.
"Exportar demanda estudar o mercado, fazer planejamento e produzir com as especificações que o mercado alvo exige", observa Irineu Munhoz, empresário do setor e presidente do Sindicato da Indústria de Móveis de Arapongas (Sima), grande polo produtor.
Aurélio Sant'Anna, que preside o Simov, sindicato que representa principalmente as marcenarias de Curitiba e região metropolitana, acrescenta que é fundamental investir em inovação, design e usabilidade. “Nós não fabricamos os melhores e mais desejados móveis do mundo”, diz Sant'Anna, acrescentando que “esse boom deve ser pontual”. Para ele, o grande salto da exportação está fortemente ligado à questão cambial e ao desajuste da cadeia internacional.
Irineu Munhoz, do Sima, diz que o que aconteceu de diferente neste ano é que a pandemia desestruturou o sistema de produção por todo o mundo, elevou custos e, em especial, encareceu o frete para todos os exportadores. Com isso, o Brasil viu abrir uma janela de oportunidade e aproveitou".
O móvel fabricado na China já não tem tanta vantagem competitiva. "Chegava nos Estados Unidos a preços muito inferiores que o nosso. Com o aumento dos fretes internacionais, os chineses perderam o privilégio e nós ficamos um pouco mais competitivos”, diz.
Nesse contexto, é muito provável que se o dólar recuar abaixo de R$ 5 e, se os fretes marítimos se ajustarem, com uma eventual desaceleração da pandemia, o cenário volte a ser duro para os móveis "Made in Brazil". Simplesmente pelo fato de seguirem brigando numa faixa de produtos genéricos e baratos, que os chineses sabem explorar como poucos.
“A generalização é perigosa quando se está num mercado de alta concorrência. Sempre vai ter um chinês produzindo um móvel mais barato. Temos que ter um diferencial”, pontua Aurélio Sant'Anna.
O que mudou também, segundo Irineu Munhoz, foi o olhar do comprador internacional para o mercado global. “Alguns países viram que seu fornecimento estava muito concentrado na China e passaram a buscar outros fornecedores, entre eles o Brasil”, diz. Para o líder do setor, há uma oportunidade de crescer nesse momento na exportação e as indústrias estão aproveitando.
O Paraná é o terceiro maior produtor de móveis do Brasil, ficando atrás de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os três estados respondem por 80% das exportações de móveis do país. Os móveis do Paraná são vendidos para toda a América do Sul, para os Estados Unidos e também para África, Ásia e Europa. São exportados principalmente móveis seriados, fabricados com placas de MDF e MDP, mas também móveis em madeira. “Os americanos gostam muito dos móveis de pinus fabricados aqui”, conta Munhoz.
Em sua empresa, a Móveis Caemmun, de Arapongas, as exportações estão maiores até do que antes da pandemia. ‘Se compararmos com 2019, as nossas vendas para o mercado externo cresceram 10% em volume e 15% em valores”, informa Munhoz, que exporta há mais de dez anos para 50 países, entre eles, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e praticamente toda a América do Sul. Com isso, o mercado externo, que antes absorvia 23% da produção, hoje já responde por 30% do que a Caemmun produz.
O economista da Fiep, Evanio Felippe, que analisou os dados da balança comercial, confirma que a alta nas exportações já é maior até mesmo do que antes da pandemia. “Considerando todo o setor, o aumento foi de cerca de 75% tanto em valores como em volume de 2019 para 2021, comparando os primeiros semestres". Mas o setor foi afetado também pela alta das matérias-primas e componentes, como resina, plástico, vidro, ferragens, papel e embalagens. Boa parte disso é importada. Esses itens ficaram mais caros, elevando os custos de produção e aumentando o preço para o consumidor final.
Aurélio Sant’Anna, que é proprietário da Vila Madera, marcenaria que produz móveis de alto padrão, em Curitiba, diz que a pandemia favoreceu também as vendas no mercado interno. “As classes A e B passaram a investir em móveis para o home office e as C e D, que receberam o auxílio emergencial, destinaram parte para melhorar o conforto da casa. “Além disso, as pessoas deixaram de gastar com refeições fora de casa e esse valor, no caso de algumas famílias, foi direcionado à compra de itens para casa, entre eles móveis.