LOURIVAL SANTANNA
N o contexto histórico e econômico, os resultados das eleições para o Congresso e Estados americanos representam uma vitória democrata. Um olhar mais detalhado mostra ainda uma importante derrota para o ex-presidente Donald Trump. Os eleitores foram às urnas dizendo que sua maior preocupação era a inflação. Ela bateu o recorde dos últimos 40 anos, embora esteja em queda, como mostrou o último dado anual, divulgado na quinta-feira, de 8,2% para 7,7%. Entretanto, isso não se traduziu em vitória acachapante dos republicanos, que até a noite de sábado haviam tomado 16 cadeiras dos democratas na Câmara. Partidos do governo perderam em média 30 deputados em eleições de meio de mandato desde os anos 80. No governo de George W. Bush, os republicanos perderam 30 cadeiras em 2006. Nos dois mandatos de Barack Obama, os democratas perderam 63 em 2010 e 13 em 2014. No de Trump, os republicanos perderam 40 em 2018. De acordo com pesquisa da CNN, 35% dos que efetivamente votaram na terça-feira se declararam republicanos, 34%, democratas e 31%, independentes. Entre os independentes, 51% votaram em democratas e 49%, em republicanos. Tanto em 2018 quanto em 2014, os independentes deram 12 pontos porcentuais de preferência para o partido da oposição; em 2010, 19 pontos; em 2006, 18. A boca de urna da CNN revelou que, para 31% dos eleitores, a inflação é a maior preocupação. Em seguida, vem o direito ao aborto, com 27%. Em junho, graças às três nomeações de juízes conservadores feitas por Trump, a Corte Suprema retirou a garantia do direito ao aborto, por 5 votos a 4. A questão é percebida por muitos como invasão do Estado nas liberdades individuais. No Kansas, tradicionalmente republicano, referendo em agosto manteve o direito ao aborto, e o candidato de Trump ao governo foi derrotado. Além disso, muitos candidatos que professam a tese de Trump – nunca comprovada – de fraude nas eleições de 2020 não se elegeram, incluindo os que disputaram os governos de Nova York, Michigan, Minnesota, Pensilvânia e Wisconsin. Para senador, o candidato negacionista eleitoral de Trump na Pensilvânia foi derrotado e na Geórgia também, mas lá ainda disputará o 2.º turno. Na véspera das eleições, Trump atacou o governador da Flórida, dizendo que, se Ron DeSantis disputar com ele as primárias republicanas para a presidência em 2024, vai revelar “coisas sobre ele que não serão muito elogiosas”. DeSantis se reelegeu com 59% dos votos. Tudo isso indica que uma parte expressiva do eleitorado americano está cansada das artimanhas de Trump. Num sinal de preocupação, o ex-presidente tenta culpar o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, pelos resultados. Por ora, no entanto, Trump controla as primárias do Partido Republicano, por meio de seus filiados. E, com elas, as carreiras dos políticos republicanos