Celso Ming

Lula e os investimentos da Petrobras

O ESTADO DE SÃO PAULO (SP) | COLUNAS | 13/11/2022
CELSO MING
A lguns dos planos do governo Lula para a Petrobras já são conhecidos. É “dar um basta ao fatiamento”, cortar “o excesso de dividendos”, “abrasileirar os preços dos derivados” e aumentar os investimentos, especialmente em energia renovável e em refinarias. E é esse campo focado nos investimentos que precisa de mais avaliação. A Petrobras foi ao longo dos governos do PT mais um território de predação do que uma alavanca de desenvolvimento. Seus investimentos em refinarias foram bem mais do que simples desastres. A aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, foi um mico reluzente. Comprada em 2006 por US$ 1,2 bilhão foi revendida em 2019 por US$ 467 milhões. A construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) deveria ser concluída em 2011 por US$ 6,1 bilhões. Em 2017, seu custo pulara para US$ 30 bilhões. Para ser concluída, deveria chegar a perto dos US$ 50 bilhões. Em 2019, a Petrobras desistiu, “por falta de atratividade econômica”. Extirpou R$ 20 bilhões de seu balanço (impairment) apenas em prejuízos com o projeto. A Refinaria Abreu e Lima, localizada em Pernambuco, foi projetada para trazer capital estrangeiro (venezuelano) para metade (Segundo Trem) do complexo. Até agora, a Venezuela não compareceu com um centavo sequer. A refinaria (Primeiro Trem) está à venda, mas até agora não encontrou comprador. Das oito refinarias que a Petrobras deveria passar adiante por imposição do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em 2019, apenas três foram vendidas. Entre 2014 e 2021, as reduções (impairments) de balanço patrimonial da Petrobras por desmandos e corrupção, mas, também, por desvalorização dos ativos alcançaram R$ 189 bilhões – volume próximo do que hoje Lula quer de autorização do Congresso para gastar. Está corretíssima a proposta de que a Petrobras faça grandes investimentos em energia renovável (eólica e solar) e se prepare para ser grande exportadora de hidrogênio verde, o combustível do futuro. Mas uma forte inversão em refinarias leva ao risco de desperdício de capitais. O PT não quer apenas reverter as determinações do Cade. Quer mais capacidade de refino. Hoje é preciso importar cerca de 25% do óleo diesel, fator que dificulta o “abrasileiramento” dos preços internos pretendido. O problema é que a era dos combustíveis fósseis está com seus dias contados. Dentro de uma década pode haver uma enorme capacidade ociosa na área de refino global. E, nessas condições, seria melhor importar do que contar com produtos para os quais terão sido despendidos enormes capitais em refinarias próprias

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