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Lideranças comunitárias da 29 de Março, Jardim Primavera, Tiradentes, Sambaqui e Caximba subiram pela primeira vez na tribuna da Câmara Municipal de Curitiba (CMC), na última sexta-feira (11), durante audiência pública organizada pelo vereador
Dalton Borba (PDT), presidente da Frente Parlamentar da Regularização Fundiária. A atividade foi transmitida ao vivo pelas redes sociais da CMC e teve a participação de movimentos sociais, da OAB-PR, do governo estadual e do Tribunal de Justiça do Paraná.
“O direito à moradia é um direito fundamental, é onde começa a dignidade humana. É preciso que a gente tenha um espaço onde ir no final do dia e que seja de segurança”, defendeu
Dalton Borba, já no início da audiência pública. “Curitiba tem hoje 453 áreas de ocupação, segundo a Companhia de Habitação Popular [Cohab], com 50 mil famílias vivendo sem infraestrutura básica, sem esgoto, sem pavimentação e energia elétrica. Dados do IBGE mostram um déficit habitacional de 80 mil domicílios em Curitiba”, contextualizou o vereador.
A audiência pública foi pautada para tratar da alternativa dos empreendimentos de habitação de interesse social por autogestão, que é uma categoria na qual a comunidade, organizada em associações de moradores, assume o comando da obra — a exemplo do realizado no “Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) Entidades”. A exposição do modelo foi realizada por Maria das Graças Xavier, da coordenação executiva da União Nacional por Moradia Popular (UNMP). Em outubro de 2021, a UNMP entregou à Comissão de Participação Legislativa da Câmara dos Deputados a proposta do Programa Nacional de Moradia por Autogestão.
ASSOCIAÇÕES E COOPERATIVAS
“A autogestão significa que o processo é realizado de forma organizada por movimentos populares, associações, cooperativas. Mais de 50 países já fazem, mas aqui ainda enfrentamos o preconceito, apesar de termos muita casa sem gente e muita gente sem casa. Não queremos concorrer com as construtoras, até porque 80% do déficit habitacional se concentra nas faixas de renda mais baixas, nas famílias que ganham até três salários mínimos. Moradia popular tem que ser desburocratizada, tem que ter um SUS da moradia, para as pessoas terem acesso de verdade”, defendeu Maria das Graças.
Vereador
Dalton BorbaA coordenadora da UNMP citou que, para áreas em litígio, é possível lutar para que os moradores conquistem um Termo Territorial Coletivo. “Primeiro a gente regulariza a terra, depois o imóvel”, sugeriu. Mostrando que o assunto já é debatido no Brasil há décadas, a arquiteta Fabiana Moro Martins, assessora do mandato do deputado estadual Goura (PDT), lembrou que desde os anos 1980 a autogestão na moradia popular já é uma realidade no Uruguai, por exemplo. Ela lamentou, contudo, que o MCMV Entidades tenha destinado apenas 1% do total do programa para esse modelo de produção de moradia.
Líder na comunidade 29 de Março, Juliana Almeida Teixeira expôs a realidade da comunidade, que teve parte das habitações destruída por um incêndio, as quais foram depois reconstruídas com ajuda de organizações sociais, em especial da Teto. “Fui chamada para falar em um projeto da ONU sobre termos energia solar na sede da associação, porque eu estava ajudando na coisa climática. A energia solar foi necessidade, porque projetos sociais usam o espaço da associação, mas lá não tinha energia elétrica. Foi necessidade”, relatou.
Juliana Teixeira contou que, no auge do racionamento, foi construída uma cisterna na comunidade, cuja inauguração contou até com a participação do prefeito Rafael Greca. Superado o rodízio, a caixa-d’água parou de ser enchida. “Agora ela virou brinquedo, as crianças é que usam, que a gente não tem parquinho.Tudo que a gente quer ter, não pode ter. A gente fica indignado”, disse, relatando como os migrantes que vêm para a cidade acabam morando nas comunidades. A líder da 29 de Março também cobrou os vereadores, pois na audiência estava somente
Dalton Borba. Renato Freitas participou em parte da atividade e a assessoria da
Professora Josete (PT) acompanhou toda a audiência.
Na tribuna, também falaram Márcio Rodrigues de Souza, do Jardim Primavera; o pastor Jorge Lunes, do Caximba; Paulo Bearzoti, do Movimento Popular pela Moradia, sobre a realidade da comunidade Tiradentes; e Eliane da Silva, da comunidade Sambaqui, que questionou a ausência da Cohab na audiência pública e retomou a proposta de uma secretaria específica para a moradia de interesse social, como forma de melhorar a articulação. “A gente discute a regularização da Sambaqui, pedimos orientação da Cohab, moramos ali há 17 anos”, contou Eliane da Silva, que foi relocada para a comunidade da ocupação do prédio do Banestado e hoje integra a coordenação da UNMP estadual e municipal.
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