Parceria de empresas e Senai promete bateria íon-lítio nacional

Curitiba vai ganhar fábrica-piloto do equipamento para carros elétricos

VALOR ECONÔMICO (SP) | GERAL | 01/07/2024
No próximo mês, Curitiba vai ganhar uma fábrica-piloto de baterias de íon de lítio para carros elétricos. Resultado de uma parceria entre a academia e o setor privado, a iniciativa faz parte de um dos projetos do Instituto Senai de Inovação, criado há 12 anos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial para sustentar a área de pesquisa e desenvolvimento nas empresas.
O Senai já tem 26 institutos de inovação em operação e dois em fase de implantação, que abrangem áreas de diversos segmentos industriais, como automação, energias renováveis, biodiversidade, biossintéticos, logística, química verde e sistemas avançados de saúde. “Cada um deles possui o domínio profundo de uma área que interessa à indústria”, destaca Gustavo Leal, diretor-geral do Senai.
No caso da linha de baterias, o projeto interessa principalmente à indústria automotiva num momento em que o setor, globalmente, passa por uma das mais importantes e profundas transformações da sua história, com a eletrificação assumindo papel importante na descarbonização do transporte.
Sejam os carros puramente elétricos ou híbridos, as baterias passarão a ser o “coração” das próximas gerações de veículos. E o Brasil ainda depende da importação desse produto.
“Precisamos aprender a produzir baterias; hoje somos dependentes da China”, destaca Marcos Berton, pesquisador-chefe do Instituto Senai em Eletroquímica. O instituto liderado por Berton é o responsável pelo projeto-piloto de baterias, que ocupará uma área de 800 metros quadrados dentro do próprio instituto, em Curitiba. A duração do projeto será de três anos.
Essa “linha de produção” foi criada pelo Senai junto com 27 empresas, entre as quais estão montadoras como Stellantis, Volkswagen, General Motors e Marcopolo, e fornecedores de componentes como WEG, Moura e Tupy, além de Petrobras, Companhia Brasileira de Alumínio e a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM). Ao grupo se juntaram também diversas startups e empresas que atuarão no fornecimento de minerais como o fosfato, usado em baterias.
“Pensamos em criar um projeto envolvendo toda a cadeia”, destaca Berton. Segundo ele, há dois anos, as empresas começaram a ser abordadas pelo Senai para participar do projeto.
A relevância do projeto das baterias foi confirmada recentemente, quando começou uma onda de anúncios de novos ciclos de investimentos nas montadoras envolvendo, em sua maioria, o desenvolvimento de carros híbridos e, futuramente, 100% elétricos. Somente nas montadoras de carros e comerciais leves, os investimentos já somam R$ 115,5 bilhões para a década.
A bateria de íon-lítio é uma tecnologia de armazenamento de energia em expansão em todo o mundo porque permite carregamento mais rápido. Além dos carros elétricos, é usada em aparelhos celulares, notebooks e tablets.
A execução desse projeto envolve investimento de R$ 60 milhões, dos quais R$ 45 milhões do Senai e R$ 15 milhões da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial ( Embrapii). Ambas as entidades desembolsaram outros R$ 36 milhões em outro projeto também voltado ao desenvolvimento de baterias de lítio, em Pernambuco.
Nos últimos 82 anos, o Senai tornou-se bastante conhecido como parceiro da indústria na área dos cursos técnicos. Mas nem todos conhecem o Instituto de Inovação, criado a partir de recursos próprios do Senai e mais uma linha especial de financiamento do BNDES de R$ 1 bilhão.
Com centros de atuação espalhados em diversos Estados, mas todos com atuação nacional, o instituto reúne 1.350 pesquisadores e já desenvolveu mais de 3 mil projetos de pesquisa, nos quais já foram investidos R$ 2 bilhões. O desenvolvimento do instituto envolveu, ainda, uma parceria com a Sociedade Fraunhofer, entidade de pesquisa científica da Alemanha.
Desde então, o instituto tem buscado ser um elo entre a academia e as demandas do setor industrial. Os projetos envolvem parcerias com universidades e as diversas fontes de financiamento, como a Embrapii. No caso do setor automotivo, uma parte importante dos recursos vem de programas governamentais voltados ao setor, como o Rota 2030 e, agora, a segunda etapa dele, chamada de Mover. As empresas inscritas nesses programas recebem incentivos fiscais em troca de investimento em pesquisa e inovação.
Para Roberto de Medeiros, superintendente de Inovação e Tecnologia do Senai, o Mover é um dos programas voltados ao setor automotivo que mais têm estimulado a indústria a investir em parceria com o meio acadêmico. Segundo ele, esse movimento já tem se refletido em ganhos de produtividade na cadeia de fornecedores.
Vários projetos de inovação do Senai já saíram do ambiente de pesquisa e foram para o mercado. Há dois anos, por meio de projeto encomendado pela Shell, o Instituto em Automação da Produção, na Bahia, desenvolveu um robô para inspecionar equipamentos submarinos da indústria de óleo e gás.
No Instituto Senai em Eletroquímica, uma parceria com a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) obteve certificação internacional de uma folha de alumínio como componente para as baterias de íon de lítio.
Durante a pandemia, a pesquisa científica também ajudou a encontrar soluções para produtos em falta no mercado. O Instituto de Biossintéticos e Fibras trabalhou com a Klabin para encontrar, no derivado de celulose, uma nova fórmula para o álcool em gel.
E, lembra Berton, numa ação voluntária, empresas e Senai conseguiram produzir 50 mil respiradores em 30 dias. “O mundo gira em torno do conhecimento e nós queremos ser uma extensão da pesquisa e desenvolvimento da indústria”, destaca Leal.
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