‘Quem apostou na polarização errou; eleitor quer saber da iluminação, do buraco na rua’

O ESTADO DE SÃO PAULO (SP) | POLÍTICA | 08/10/2024
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, avalia que o segundo turno das eleições municipais em São Paulo não será nacionalizado. “Quem apostou na polarização errou”, avaliou o ex-ministro sobre a mensagem das urnas no primeiro turno. “O Lula caiu fora logo, ao perceber que não haveria nacionalização. O Bolsonaro não percebeu até hoje.” Em entrevista ao Estadão, Kassab disse acreditar em uma “certa convergência” dos eleitores de Pablo Marçal (PRTB) em direção a Ricardo Nunes (MDB), e reiterou sua tese de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado no Estado, é o “grande vencedor” do pleito de 2024. “Ele insistiu, preferiu ficar com o candidato que diziam que tinha menos chance. Quem ele achava que era o melhor para a cidade, com melhores parcerias com o Estado. E acertou. Ganhou o primeiro turno, e é favorito”, disse. Kassab também revelou o desejo de lançar o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), como candidato à Presidência da República em 2026. “Se nós tivermos um candidato é o Ratinho. Nenhuma decisão, mas o que eu posso afirmar é que, se a gente tiver, será ele. A não ser que ele não queira.” A ideia deve ficar em segundo plano, no entanto, se Tarcísio decidir concorrer ao cargo, o que, na avaliação do presidente do partido, não deve acontecer. “Se o Tarcísio sair candidato, o PSD não sairá. Mas o Tarcísio não será candidato à Presidência”, afirmou o secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo. A seguir, os principais trechos da entrevista. Os partidos de centro saíram vitoriosos das eleições municipais. A polarização foi a grande derrotada? Não diria “a grande derrotada”, mas quem apostou na polarização errou. O eleitor não queria esse discurso. O eleitor quer saber da iluminação, do buraco na rua. Mas e agora, no segundo turno em São Paulo, que temos Ricardo Nunes apoiado por Jair Bolsonaro e Guilherme Boulos apoiado por Lula? A eleição não vai ser nacionalizada? Não, de jeito nenhum. O pessoal quer saber o que o Boulos vai fazer e o que o Ricardo Nunes vai fazer. Em Belo Horizonte, o favorito é o Fuad (Noman, do PSD), porque a eleição não vai ser nacionalizada. Vão olhar o Fuad e o adversário, o Bruno Engler (PL), e dizer: o Fuad é melhor. Em Curitiba, será a mesma coisa, e o Eduardo Pimentel (PSD) vai vencer. O governador Tarcísio de Freitas teve derrotas no Estado de São Paulo, comoem Guarulhos. Embora tenha saído vitorioso na capital, com o apoio ao Ricardo Nunes... Tarcísio é o vencedor da eleição. Ele insistiu em ficar com o candidato que diziam que tinha menos chance. O governador ficou com quem achava que era o melhor para a cidade e acertou. Ricardo Nunes foi para o segundo turno e é favorito. O senhor espera que Pablo Marçal apoie Nunes no segundo turno? Eleição no segundo turno é para somar, não é? Tem que procurar o eleitor. Tem que procurar os outros partidos, os outros candidatos. Não posso falar nem pelo Pablo Marçal nem pelo Ricardo. Mas vai haver uma aproximação (dos eleitores), uma certa convergência. Não sei em qual intensidade. No primeiro turno, o expresidente Jair Bolsonaro deu um apoio dúbio a Ricardo Nunes. Não participou de agenda presencial com o prefeito, fez acenos para o Marçal. Como o senhor acha que deve ser a participação de Bolsonaro no segundo turno? O Bolsonaro participou. Foi à convenção... Eu defendo sempre que se participe da campanha, lógico. Segundo turno é para somar todo mundo. E Bolsonaro já está na campanha. Então, eu não defendo que ele entre, mas que continue. Lideranças do PL fizeram uma campanha anti-PSD às vésperas do primeiro turno. Há uma rivalidade entre PL e PSD? Não. A repercussão disso foi zero. Ainda mais numa eleição municipal, as pessoas têm de discutir a cidade, não se preocupar com essa briga de partido, que foi onde eles (o PL) erraram. Quem deu esse tom foi o Valdemar (Costa Neto, presidente nacional do PL) e o Bolsonaro. E o Lula também, achando que ia nacionalizar a campanha. O Lula caiu fora logo, ao perceber que não haveria nacionalização. O Bolsonaro não percebeu até hoje. O PSD foi muito bem nas prefeituras no interior de São Paulo e de Minas Gerais. Só que em Minas o perfil do partido é mais ligado à centro-esquerda... Na Bahia também, no Paraná também. É próprio do partido de centro. (Há) Uns Estados em que somos mais centro “puro”, em outros um pouco mais para a esquerda, mais para a direita. O PSD é um partido de centro. Esse crescimento à direita e à esquerda não aumenta o desafio de equilibrar todos os pratos? Não. Nossos líderes são muito maduros. A gente sempre consulta todo mundo. Esse é um partido que nunca teve crise. Ao contrário, é um dado positivo. Esse posicionamento que não é, assim, engessado. O PSD é o novo PSDB? Não diria isso, é até uma descortesia com o PSDB, que ainda existe. O PSDB está com muita dificuldade. E o PSD tem esse perfil de trazer bons quadros, valorizar a eficiência, a renovação. Então, se o PSD continuar crescendo, pode ser que ocupe (o lugar do PSDB do passado). Porque o PSDB foi muito grande um dia com esse mesmo perfil. O senhor vê que Ratinho Jr., governador do Paraná, está forte o suficiente para ser o presidenciável da direita em 2026? Da centro-direita. Posso falar por mim e pelo PSD. Se nós tivermos um candidato à Presidência, será o Ratinho. E, na hora certa, a gente vai definir se terá ou não candidato. E se Tarcísio quiser disputar a Presidência? Se o Tarcísio sair candidato, o PSD não sairá. Mas o Tarcísio não será candidato à Presidência. Algumas pessoas do PT defendem que o senhor, que cada vez mais tem mostrado força política, seja o vice do presidente Lula em 2026... Me deixa aqui quietinho em São Paulo (risos).

#80211426