Marcio Roberto da Silva Garcia e Jean Carlo Polli de Carvalho Andrade - Sistema Fiep
A partir de 2021, países europeus e os Estados Unidos iniciaram estudos e debates com o objetivo de buscar soluções para as perdas educacionais oriundas da pandemia de COVID-19. Embora não houve um consenso sobre a melhor forma de solucionar a defasagem de aprendizagem dos estudantes, observou-se que apenas ensinar habilidades de anos anteriores poderia dificultar ainda mais o aprendizado, principalmente nas populações mais vulneráveis.
Programas internacionais como o AEWG (Accelerated Education Working Group), desenvolvido com representantes de órgãos como UNICEF, UNESCO, UNHCR e ONGs, apoiaram ações de aceleração de aprendizagem em países como Gana, Quênia e Afeganistão. O programa AEP (Accelerated Education Programmes) teve como objetivo oferecer educação para crianças e jovens em vulnerabilidade social, com foco no letramento, numeracia e aprendizagem socioemocional. Neste programa, foi enfatizada a aceleração do currículo, permitindo que os estudantes concluíssem determinada etapa de escolarização em um período reduzido.
O Cenário Brasileiro: Desigualdades e Desafios
No Brasil, a pandemia também agravou seriamente as desigualdades educacionais, principalmente nas comunidades mais vulneráveis, reforçando ainda mais disparidades. Nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), em 2019, apenas 36% dos estudantes da rede pública de ensino atingiram o índice adequado em Língua Portuguesa. Nos índices do IDEB de 2024, foram registradas informações que corroboram com este panorama, demonstrando o agravamento das lacunas de aprendizagem já existentes.
Por aqui, o termo adotado para este movimento foi Recomposição de Aprendizagem, por ser mais abrangente do que apenas a aceleração. Para recompor as aprendizagens, são necessárias, além da seleção de conteúdos prioritários, uma articulação de ações que visam mobilizar e impulsionar o aprendizado, compreendendo as necessidades pedagógicas de cada estudante e, a partir disso, reorganizar o seu percurso de aprendizagem.
Recomposição de Aprendizagem: Conceitos e Metodologias
A recomposição não pode ser confundida ou considerada um reforço escolar ou uma recuperação. O reforço muitas vezes é considerado uma forma de apoiar o estudante sem olhar seu desempenho anterior, já a recuperação foca em um complemento do conteúdo não absorvido durante o período letivo. A recomposição segue alguns parâmetros e ações adequadas para cada estudante. Sendo elas a reorganização curricular, o escopo sequência, a criação de materiais didáticos de apoio e as avaliações, mediações pedagógicas e formação docente.
Dentre os termos citados, vale destacar o escopo sequência, pois é nele que são definidos os conteúdos e habilidades que serão trabalhados durante o ano de acordo com os conhecimentos prévios dos anos anteriores. Por exemplo, um estudante do Ensino Médio que apresenta defasagem na habilidade de “análise de gráficos e pesquisa estatística” precisará avaliar quais habilidades prévias o auxiliarão no processo de aprendizagem. Isso demonstra a ponta do iceberg que surge no Ensino Médio, na verdade, são de competências e habilidades do Ensino Fundamental que não foram sanadas e não apenas na disciplina específica.
É a partir desta identificação que a sequência é estabelecida, determinando a ordem e o ritmo em que esses conteúdos são ensinados, garantindo uma melhor progressão e continuidade do aprendizado.
Práticas do
Sesi: Inovações e Resultados
O desempenho dos estudantes brasileiros em Matemática e Ciências da Natureza tem sido historicamente baixo, conforme apontado pelo PISA 2022, onde o Brasil registrou uma média de 379 pontos em Matemática, muito abaixo da média da OCDE (479 pontos). Para enfrentar esse desafio e recompor aprendizagens defasadas do Ensino Fundamental, o
Sesi Departamento Nacional criou o Módulo de Aprendizagem Personalizada (MAP). Essa iniciativa inovadora inclui diagnóstico, intervenção pedagógica e monitoramento contínuo, focando na personalização do ensino.
O
Sesi Paraná adotou essa recomposição em Matemática e Ciências da Natureza, utilizando a Aprendizagem Baseada em Projetos (ABP), que estimula a autonomia, o pensamento crítico e a colaboração por meio da resolução de problemas reais. Dentro desse contexto, o Plano Pedagógico Integrado (PPI) surge como estratégia essencial, promovendo uma articulação eficaz entre competências e práticas inovadoras.
O professor assume um papel central nesse processo, diagnosticando dificuldades, planejando intervenções eficazes e aplicando metodologias ativas. No entanto, a recomposição não deve ser vista como responsabilidade exclusiva do docente, mas como um esforço coletivo que envolve gestores, coordenação pedagógica e toda a comunidade escolar.
Marcio Roberto da Silva Garcia é pedagogo, especialista em literatura e autor de livros voltados à infância, foi finalista dos Prêmios Ângelo Agostini e HQmix por duas vezes por suas obras em quadrinhos. Atualmente, é Analista de Educação e Negócio do Departamento Regional da Coordenação de Educação Básica e Formação Continuada do Sistema FIEP.
Jean Carlo Polli de Carvalho Andrade é licenciado em Física, mestre em educação em Ciências e Matemática. Atuou em diferentes redes de ensino, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio. Atualmente, é Analista de Educação e Negócio do Departamento Regional da Coordenação de Educação Básica e Cultura do Sistema FIEP.
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